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Posted by : Identidade e Cultura
September 18, 2013
Cristianismo e Homoafetividade: antagonismo eterno?
Por Hugo Benamy.
Todos nós percebemos que há alguns anos os movimentos ligados aos direitos homoafetivos têm ganhado um bom espaço nas diversas mídias e nos diálogos sociais como um todo. Talvez resultado de uma evolução nas lutas e mesmo nas demandas desse grupo que transcenderam a compaixão (como nos velhos movimentos de minorias sociais) e passaram a reivindicar o direito à diversidade e diferença.
Ora, essas pessoas nada mais querem que o direito de exercer sua cidadania plenamente. Cidadania esta que podemos entender, de forma livre, como o pertencimento de uma pessoa a uma comunidade nacional com a qual estabelece relações de direitos e deveres, mas que podemos pensá-la, de maneira mais livre ainda, como a integração de um indivíduo a uma cultura respeitando-se sua identidade (ou suas identidades).
Uma das maiores expressões públicas desse movimento nos últimos anos, a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, se mostra uma forte manifestação em prol da garantia dos direitos civis da população LGBT. Em 2004 a Parada tinha como tema “Família e Orgulho”, o que sugeria a luta pela integração desse público as suas próprias famílias. Em 2005, teve-se como tema “Parceria Civil Já. Direitos Iguais! Nem mais, nem menos.”; em 2009, “Sem Homofobia, Mais Cidadania – Pela Isonomia dos Direitos.”, e seguiu a temática nessa linha, quando em 2012 a parada pedia a criminalização da homofobia.
Podemos observar algumas vitórias na luta desse grupo. Em 05/05/2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu, por unanimidade, a existência da união homoafetiva como uma entidade familiar. Mas se por parte da justiça houve o reconhecimento à esta demanda do grupo, nos demais segmentos da sociedade a história de preconceito e intolerância seguia com poucas alterações. Ainda era comum ouvir-se falar de jovens espancados por aparentarem ser homossexuais, ainda era comum saber-se de rejeições pelas famílias, de discriminação em ambiente de trabalho e acadêmico.
Mais recentemente, parece que essa luta ganhou mais um adversário declarado. Outro grupo que tem ganhado espaço na sociedade brasileira nos últimos anos, os evangélicos, tem levantado a bandeira contra as práticas homossexuais, o que tem causado desconforto aos grupos de defesa da diversidade sexual. Algumas personalidades do meio evangélico, têm se manifestado publicamente de maneira considerada agressiva, no mínimo desrespeitosa aos LGBT: o legislador Marco Feliciano e a cantora e atualmente pastora Baby do Brasil, são exemplos.
Curiosamente, mesmo diante da aparente incompatibilidade entre a homoafetividade (e formas simpatizantes) e a religiosidade cristã, alguns homoafetivos têm buscado práticas religiosas cristãs. A Igreja Cristã Contemporânea (www.igrejacontemporanea.com.br ) inaugurou em abril deste ano seu primeiro templo em São Paulo e embora num espaço pequeno, cerca de 700m², esteve lotada e continua sendo muito buscada em seus eventos. Seu lema “Levando o amor de Deus a todos, sem preconceito” demonstra sua aceitação às diferentes identidades.
Falando agora da Igreja Católica, em visita recente ao Brasil, o Papa Francisco declarou que “Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, para julgá-lo?”. Declaração que parece ir contra anos de rejeição a este público por parte da Igreja Católica.
Estaria então o movimento da diversidade derrubando muros construídos firmemente ao longo de anos pela cultura cristã? Estaria a cultura cristã flexibilizando alguns de seus fundamentos?
As religiões são elementos culturais que determinam comportamentos, mas como também são construções sociais, estão sujeitas a mudanças conforme as sociedades vão se transformando, e é bem verdade que as transformações contemporâneas assumem um ritmo acelerado que as instituições sociais não dão conta de acompanhar, especialmente as igrejas, pois estas, dependem muito da manutenção de suas tradições como forma de proteger seu status. Talvez por esta característica mais estática das religiões haja este descompasso com elementos mais dinâmicos da modernidade.
Não vemos sinais claro de como irá se desenrolar esta relação entre a religião Cristã e homoafetividade. Temos uma parte desses grupos caminhando para uma relação mais harmônica e de outro lado, parte desses grupos deflagrando uma guerra santa. Sinto que o lado conflitante deve ganhar mais força, afinal são dois grupos que buscam ganhar espaço na sociedade e que de certa forma, a visibilidade pode ser ganha a partir desse antagonismo. Ainda é preciso que estas identidades se construam no não pertencimento a outra.

Quando li pensei como esse atrito já chegou na politica. Teve aquela briga com o pastor feliciano e o exbbb jean. Esse feliciano ta crecendo muito com essa imagem de defensor dos crentes conta os gays. Eu não concordo com o que vc disse que as igrejas são tradicionais, elas estão mudando muito hoje pra atrair mais gente. Mas legal as coisas que vc escreveu ai.
ReplyDeleteWalter Francisco. SP
As pessoas viveriam felizes sem religiões, mas infelizmente isso foi incorporado na nossa sociedade e agora é preciso "civilizar" as pessoas, para que possam conviver em harmonia com os diferentes.
ReplyDeleteRespeito a fé das pessoas, sim a fé. As religiões só acham que servem como expressão de poder para alguns. o ideal seria que elas ficassem restritas as paredes de suas igrejas.
ReplyDeleteJuliana Veloso de Assis, João Pessoa.
Nem dá pra dizer tanto que é assim. Existem muitos evangélicos ou pessoas católicas que tem amigos gays e não tem problemas com isso e não vivem brigando não. Dificilmente alguém no dia a dia é afetado por este tipo de problema. As pessoas sabem conviver em paz.
ReplyDeleteIndependente de religião e de condição sexual as pessoas tem fé. Jesus Cristo não fez distinção e quem somos nós para fazer. A instituição Igreja deveria sim recebê-los sem julgamentos, mas a radicalidade de algumas colocam preconceitos acima dos ensinamentos de Jesus que era de puro amor.
ReplyDeleteElaine Benevides, Rio de Janeiro